sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

"Os Treze Anos" - António Feliciano de Castilho

Já tenho treze anos,
que os fiz por Janeiro:
madrinha, casai-me
com Pedro Gaiteiro.

Já sou mulherzinha;
já trago sombreiro;
já bailo ao domingo.
coas mais no terreiro.

Já não sou Anita,
como era primeiro,
sou a senhora Ana,
que mora no outeiro.

Nos serões já canto,
nas feiras já feiro,
já não me dá beijos
qualquer passageiro.

Não quero o sargento,
que é muito guerreiro,
de barbas mui feras,
e olhar sobranceiro.

O mineiro é velho;
não quero o mineiro;
mais valem treze anos
que todo o dinheiro.

Tão-pouco me agrado
do pobre moleiro,
que vive na azenha
como um prisioneiro.

Marido pretendo
de humor galhofeiro,
que viva por festas,
que brilhe em terreiro;

Da parte, madrinha,
de Deus vos requeiro:
casai-me hoje mesmo
com Pedro Gaiteiro.

1 comentário:

  1. Sempre gostei deste poema. Sou Pedro, não sou gaiteiro, mas sinto-me feliz ao lê-lo, alegra-me o coração e se possivel vou compartlhá-lo com os meus amigos. Bem hajam!

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